Fria e pálida

 Deixe-me andar por este caminho cheio de espinhos, acessar a nossa árvore antiga onde há tempos atrás escupimos o nosso nome! Quero me embriagar de vinho... Deixe-me singrar por estas ondas turbulentas, Saciar-me destas saudades violentas. Esquecer a imagem sanguinolenta! Ao apagar das velas, o silêncio, um corpo imóvel da divina donzela, o atroz crime! Quero sentir em teus lábios o néctar sublime! É tarde! É tarde ela dizia! Enquanto fria e pálida morria! É o teu último beijo que torna a minha dor ainda mais profunda! Ó deuses, cuspam sem dó nesta minha face imunda!... O teu riso doentio e mortal não me apavora. Saia! Saia morte... Deste corpo agora! Mas antes venha deitar-te comigo... Venhas logo! Depois pode ser tarde demais e daqui a pouco leva muito tempo. Tudo será como um sonho antigo! Sei que encho-te de agonias quando digo que não te quero mais. - Mas é só ironia de um amor voraz! Estás ficando pálida e fria! Agora tanto faz se faço de meus braços teu abrigo... Depois deixo-te para trás! Unjam a cabeça dessa virgem febril que em delírios, na agonia da fadiga, oculta um suspiro de um amor cruel e doentio... Tragam-me ela que está a falar com a voz trêmula e quase já não me escuta! Vejo anjos numa épica disputa pelo teu corpo sagrado... Tragam-me a moça de cabelos negros que em meus sonhos vagueia. Apaguem este meu coração que ainda candeia! Quero ficar mais um pouco ao teu lado. Negras lágrimas lavam o teu rosário. Mal sabes tu que meu coração que era teu abrigo também era teu calvário! Às flores, em teu leito, de tristeza feneceram. Levo-te em meu enlutado peito! E meus pensamentos cheio de mistérios corteja-te na procissão pelo cemitério! Descansa-te ó minha amada, fria e pálida sob o teu fúnebre mármore coberto de neve... Enquanto eu, suspenso numa corda aos rubustos galhos da nossa árvore, tentarei encontrá-la logo em breve!...

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